Última alteração: 2023-11-10
Resumo
Partindo da premissa segundo a qual o texto literário pode ser tratado como um documento, o presente artigo objetiva analisar em que condições o Poema sujo, escrito por Ferreira Gullar, consegue mobilizar e dar a ver, por meio de seus versos, um conjunto de vestígios informacionais e rastros testemunhais reveladores das implicações da ditadura militar – brasileira e do Cone Sul – sobre a vida do poeta e para a história do país. Em face disso, o estudo constituído caracteriza-se como de natureza bibliográfica, documental e exploratória em que, amparado pelos conceitos de rastro e vestígio, se investiga como o Poema sujo pode constituir-se em “arquivo” que organiza, preserva e perpetua a memória individual e a memória histórica de uma época. Como resultado, demonstra-se que a escrita de Gullar é capaz de agenciar em si inúmeros vestígios informacionais e rastros testemunhais com potencial para oferecer aos leitores uma imagem melhor delineada tanto sobre a história de vida do escritor, quanto das contingências culturais e políticas que, no contexto da ditadura militar, pautavam as ações individuais e modulavam os acontecimentos coletivos.